A cerimônia de inauguração da Fábrica de Sabão Ecológico Solidário, realizada nesta sexta-feira (21), representa o início de uma nova fase à Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e ao Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA).
Parceiras na idealização do projeto, as duas instituições partem, agora, para a revisão do plano de negócio – que norteou a implantação da fábrica ao longo dos últimos dois anos. Neste período, a fábrica funcionou em regime experimental, em um galpão improvisado ao lado do Instituto Penal de Santo Ângelo, onde hoje se encontra o novo prédio. A produção, nesta época, era feita artesanalmente.
“No início, produzíamos na fábrica o suficiente para suprir a demanda dos 110 presos de Santo Ângelo. Havia uma necessidade, falta de recursos para higiene dos apenados, o que nos levou a produzir o produto. O projeto então evoluiu e passamos a atender todas as casas prisionais da 3ª Região Penitenciária, com a produção de 2 mil barras de sabão mensais”, destaca a gestora do projeto na Susepe, Débora Pedroso.
Com a inauguração, que representa a conclusão do prédio e a instalação dos equipamentos necessários, os apenados passarão a trabalhar com 100% da capacidade. A produção passará a 20 mil barras de sabão mensais, atendendo à demanda de todas as casas prisionais do Estado.
“A fábrica tem a marca de cada pessoa, de cada entidade que contribuiu para concretização da proposta. Não foi fácil angariar os recursos. Emociona saber que, agora, teremos o produto para abastecer os apenados. Que estas pessoas, que tiveram desvio de comportamento em algum momento, agora terão oportunidade de trabalhar e aprender um ofício. Todos sabem como é difícil a reinserção na sociedade após um período de reclusão”, completa Débora.
Da sala de aula para a comunidade
Em sua fala, o diretor do IESA, professor Júlio César Lindemann, ressaltou a importância da participação dos alunos de Administração na elaboração do plano de negócio. E serão eles, os acadêmicos, os responsáveis por alavancar a campanha de conscientização para doação do óleo de cozinha usado. A atividade será realizada em parceria com o Departamento Municipal de Meio Ambiente de Santo Ângelo (Demam), um dos principais apoiadores do projeto.
“Neste momento, os alunos estão fazendo uma pesquisa, junto aos supermercados da cidade, a fim de descobrir quanto de óleo de cozinha é vendido em um mês, em um semestre ou em um ano. Dessa forma, teremos ideia de quanto é consumido e se conseguiremos a quantidade necessária para produção das 20 mil barras mensais”, destaca a coordenadora do projeto no IESA, professora Leila Batista.
Conforme destacou a gestora Débora Pedroso durante a cerimônia, até então eram necessários 206 litros de óleo. Com a nova demanda, serão necessários 2.080 litros mensais.
Envolvidos
Gerente da Eletrosul em Santo Ângelo, Luciano Neves Bordim teve participação especial na execução do projeto. Ele foi um dos acadêmicos de Administração responsáveis por elaborar o plano, além de acompanhar, ao longo de 2011, a aprovação de recursos junto à Eletrosul. “Eram 120 projetos concorrendo naquele ano, e apenas 12 foram selecionados. Entre eles, 9 eram da região e um referia-se à Fábrica de Sabão Ecológico. Me orgulha fazer parte desta história, desta iniciativa de ressocialização”, frisa Bordim.
Durante a cerimônia, U. B., egresso do Instituto Penal, também deu seu depoimento. Ele foi um dos primeiros colaboradores da fábrica, embora ainda não acreditasse na concretização da proposta. “Eu achei que a ideia não ia para frente. Mas a determinação dos envolvidos mostrou o contrário. Hoje, os apenados têm possibilidade de trabalhar. De aprender uma profissão sem serem julgados. Errar, todos erram, e é importante que tenham oportunidade de seguir em frente”, disse.
O projeto conta com apoio, também, do Conselho Comunitário Penitenciário de Santo Ângelo, Ministério Público, Poder Judiciário e Justiça Federal.