_O empreendimento está em estudos e vai envolver oito municípios da região, mas Garruchos será o mais atingido pela construção_
Na próxima assembleia mensal da Associação dos Municípios das Missões (AMM), que vai acontecer no próximo dia 18 de outubro, em São Borja, um dos temas da pauta será analisar as conseqüências para os municípios missioneiros da construção do complexo hidrelétrico Garabi-Panambi. A decisão foi tomada pelo presidente da Associação, prefeito René José Nedel após o evento organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do RS (Cdes-RS), na sexta-feira passada, dia 04, no auditório da Unijuí, em Santa Rosa quando foram discutidos os pontos positivos e negativos da construção de barragens. O encontro, bastante polêmico, teve manifestação dos grupos contrários à instalação do complexo. Conforme projeto apresentado pelo presidente da Eletrobrás dos 26 municípios que fazem parte da AMM oito terão áreas agricultáveis inundadas, sendo que o município de Garruchos será o mais atingido pela construção, com o reservatório Garabi.
O PROGRESSO NÃO CHEGOU EM GARRUCHOS
De acordo com o prefeito Carlos Cardinal, que se manifestou no encontro mostrando preocupação quanto aos possíveis resultados positivos da construção, o empreendimento pode não trazer o desenvolvimento desejado. Ele citou o exemplo do próprio município que, mesmo com duas conversoras de energia elétrica instaladas há 12 anos em Garruchos, a mudança não representou melhoria de vida para a população. Ao contrário, houve queda na arrecadação do município. Quando foram implantadas as conversoras, que converte a energia brasileira para a
Argentina, a comunidade garruchense acreditou que finalmente iniciaria o crescimento econômico da cidade e da região, a começar com o asfalto da RS 176, entre Santo Antônio e Garruchos esperado há mais de 30 anos. Mas isso não ocorreu e só piorou a situação,“hoje o trecho que deveria ser conservado pelo Daer é, seguramente, uma das piores estradas do Estado", lamentou o prefeito. Cardinal revelou ainda que, por conseqüência da decisão federal em isentar de impostos a compra e venda de energia entre Brasil e Argentina, o município perdeu 2,5 milhões de reais em arrecadação afetando o atendimento em setores fundamentais inclusive saúde e educação.
"Sei que energia significa desenvolvimento, mas isso não aconteceu em Garruchos", disse o prefeito, ao exemplificar que a cidade conta com apenas um posto de saúde sem nenhum leito para emergências, e não existe nenhum curso técnico ou federal no município, além de dificultar o acesso dos jovens à Universidade. Os jovens garruchenses precisam se deslocar mais de cem quilômetros para estudar e isso só é possível graças ao transporte gratuito disponibilizado pela prefeitura. Além disso, segundo Carlos Cardinal são pouquíssimas as informações que o município recebeu sobre a construção da barragem. “Nos falam que nada está definido, mas estão acontecendo os estudos
para que a barragem seja construída. Precisamos olhar o crescimento da região sob o ponto de vista de nossa gente”, garantiu ele, evidenciando que as comunidades da região missioneira precisam discutir muito bem a questão para que mais tarde não se repita a mesma situação que em Garruchos, onde as gigantes conversoras ao invés de trazer o fundamental crescimento para o município ocasionaram perda de renda.
As obras de construção das usinas somente poderão ser iniciadas mediante aprovação dos estudos de viabilidade técnica, econômica e social, das análises de impacto ambiental, dos projetos básicos e a concessão das licenças ambientais pelos governos do Brasil e da Argentina. Depois da aprovação de todas as etapas, as obras devem ser concluídas em cinco anos. No Brasil, o reservatório Garabi inundará terras nos municípios de Garruchos, Santo Antonio das Missões, São Nicolau, Pirapó, Roque Gonzales, Porto Vera Cruz, Porto Lucena e Porto Xavier. O reservatório Panambi inundará terras nos municípios de Alecrim, Doutor Mauricio Cardoso, Novo Machado, Porto Mauá, Santo Cristo, Tucunduva, Tuparendi, Crissiumal, Derrubadas, Esperança do Sul e Tiradentes do Sul.
Além do prefeito de Garruchos estavam presentes no evento integrantes do poder Executivo missioneiro de Cerro Largo, Giruá, Pirapó, Porto Xavier, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, além do dirigente da Famurs e prefeito de Santo Ângelo, Valdir Andres e da presidente da
Associação das Primeiras-Damas das Missões, Mara Ketzer. Também participaram lideranças comunitárias, de movimentos sociais e sindicais, secretários de Estado, deputados federais e estaduais e demais entidades regionais.
LOCALIZAÇÃO DA BARRAGEM
O empreendimento envolve os governos do Brasil e da Argentina. A Eletrobrás, em parceria com a empresa argentina Emprendimientos Energéticos Binacionales S.A. (Ebisa), desenvolve os estudos e projetos para a instalação no rio Uruguai, na fronteira com as províncias de Misiones e Corrientes. No Rio Grande do Sul, o complexo será construído nos municípios de Garruchos e Alecrim, na região Noroeste e Missões. A localização exata será conhecida após estudos geológicos específicos nos locais que serão realizados nos estudos de viabilidade e projeto básico. Nos estudos de inventário, foi definido que a barragem de Garabi se localizará cerca de 6 km rio abaixo da cidade de Garruchos. A barragem de Panambi se localizará a cerca de 9 km rio acima da cidade Porto Vera Cruz, no Brasil, e Panambi, na Argentina.
De acordo com a Eletrobrás, o Complexo Hidrelétrico Garabi-Panambi tem previsão de gerar 2.200 MW, energia que será igualmente dividida entre os dois países. O projeto terá um custo estimado de US$ 5,2 bilhões. Nos estudos de inventário já concluídos, foram estimados cerca 12.500
empregos entre as duas unidades, empregando 70% de mão de obra local. O mesmo estudo aponta que cerca de sete mil gaúchos serão atingidos pelas obras. A barragem de Garabi terá cerca de 40 metros de altura e 3200 metros de comprimento, enquanto a barragem de Panambi terá cerca
e 40 metros e 1000 metros de comprimento.