São Luiz Gonzaga registrou nas últimas semanas quatro casos de cobras encontradas em residências no perímetro urbano. Os casos têm assustado à comunidade, uma vez que não é comum encontrar esses animais dentro das residências.
A reportagem da Missioneira conversou com a biológa Denise Scherer. Ela possui anos de experiência na área e é estudiosa de répteis. Ela explica que o surgimento desses animais é comum nessa época, em que as cobras estão nascendo.
Cada ninho de cobra pode ter até 24 filhotes, dependendo da espécie. Quando os filhotes nascem cada um pode tomar um rumo diferente, pois eles não se desenvolvem em grupos. ‘’É normal que em uma ninhada um filhote se perca e entre em uma casa’’, explica a bióloga.
Os locais onde as cobras fazem os ninhos geralmente são terrenos baldios. ‘’Assim como no início do verão é comum ver répteis nas estradas, pois é a época que eles saem para reproduzir’’, afirma.
Denise disse que existem mitos em torno desses animais. É comum que uma pessoa se assuste ao se deparar com uma cobra dentro de casa. ‘’Essa história de que o bicho vai correr atrás de ti e atacar não é verdade’’, salienta. ‘’A cobra só vai atacar se sentir-se ameaçada, o veneno dela é utilizado para pegar suas presas, ela vai sempre economizar sua energia’’, explica. Das 400 espécies de cobras no Brasil, apenas 15% possuem veneno e nem todas essas tem veneno com potencial para matar um humano.
Orientações
Ao encontrar uma cobra dentro de casa, a orientação é se afastar do animal e chamar o Corpo de Bombeiros, que deve removê-la.
‘’O Corpo de Bombeiros local tem feito um bom trabalho de resgate desses animais, o que ajuda a população’’, diz.
Denise disse que não se deve matar nenhuma das cobras, nem outros tipos de animais. A pena para quem matar um animal desses é de seis meses a um ano de cadeia e multa. Em casos de espécies em extinção, as penas podem aumentar.
Cadeia alimentar
Todos os animais fazem parte de uma cadeia alimentar. Matar um grande número de espécies pode desestabilizar essa cadeia. ‘’Um exemplo que se observa é o grande número de mosquitos na cidade, pelo grande número de sapos mortos por pura superstição’’, explica.
No caso das cobras, elas são as predadoras naturais dos ratos, que são grandes pragas urbanas. Esta também pode ser uma explicação para encontrar os répteis cada vez mais perto das casas. ‘’As cobras se atraem por locais onde há ratos, por isso é importante manter os pátios limpos, sem acúmulo de lixo ou entulho, como madeiras velhas’’, explica. Manter os terrenos limpos e a diminuição de terrenos baldios na cidade também pode colaborar para o controle desses animais.
Picadas
Em caso de picadas, o procedimento correto é ir direto para o hospital. A profissional ainda destaca que é errado fazer cortes na pele ou utilizar remédios caseiros. A orientação seria levar o animal para o hospital, pois dependendo da espécie é o tipo de soro antiofídico que será aplicado.
Como nem sempre é possível, recomenda- se que hoje, com toda tecnologia disponível em celulares, por exemplo, que se tire uma foto e se observe o máximo possível as características físicas da cobra, para que o profissional de saúde saiba qual tipo de soro irá utilizar. Ressalta- se ainda, que nem sempre é necessário o uso do soro, mas só no hospital essa decisão poderá ser tomada, baseada na identificação da espécie.
Cobras nos rios da região
Circulam na internet e nas redes sociais fotos de cobras da espécie Sucuri, tiradas de animais nos rios Uruguai e Piratini na região. Denise salienta que há estudos que confirmam a existência de uma espécie de Sucuri na região da fronteira, mas não há registros fotográficos verdadeiros em redes sociais.
As fotos são sempre as mesmas para diversos relatos.” Mesmo que houvesse, jamais saltariam para cima de barcos, ou saltariam de árvores para atacar as pessoas como existem relatos na região”, comenta. Uma foto divulgada em rede social recentemente como sendo de um clube da região, aparece com vegetação amazônica nas margens do rio, sendo assim é facilmente identificada como falsa.
Outra possibilidade que pode explicar a existência de cobras de grande porte nesses rios é o abandono de animais nesses locais, por circos que utilizam em apresentações. ‘’Após um tempo esses animais são soltos, por medo de fiscalização ou por ter atingido um tamanho muito grande’’, relata a bióloga.